Oportunidades e desafios do uso medicinal da cannabis pelo público 65+

O envelhecimento da população mundial está caminhando a passos largos. Estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS) indicam que teremos globalmente 2 bilhões de pessoas com mais de 60 anos até 2050. E o Brasil não está à margem dessa tendência. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram crescimento de 26% no público acima de 65 anos, no período entre 2012 e 2018. Atualmente, o contingente da terceira idade representa mais de 20% dos brasileiros e as estimativas apontam que serão mais de um quarto das pessoas até 2060. Ou seja, a força dos integrantes da geração Baby Boomers está cada vez maior.

Proporcionar condições para que esse grande grupo populacional envelheça bem e desfrute, de fato, a “melhor idade” é um dos grandes desafios da sociedade. Alguns veem grandes oportunidades para a área de gerontologia, mas o potencial vai muito além disso. Em síntese, estamos falando de medicamentos, mas também de prevenção e ganho de qualidade de vida.

No caso do uso medicinal da cannabis, cada vez mais conhecido no Brasil e já usual na América do Norte e Europa, os medicamentos são utilizados, principalmente, para dores articulares, insônia, estresse, depressão e ansiedade. Se no cenário brasileiro alguns nós estivessem desatados, as pessoas da terceira idade poderiam ser bastante beneficiadas em meio à pandemia, considerando que é a faixa etária mais vulnerável à Covid-19. Muitos apresentaram dificuldades para dormir, mudanças no humor e comportamento, bem como se mostraram mais ansiosos. Eles teriam respaldo desses produtos relacionados ao uso medicinal da cannabis.

Não à toa os seniores estão entre os maiores geradores de demanda em relação ao uso medicinal da cannabis. No Canadá, por exemplo, após o estabelecimento de diversos marcos regulatórios e legislações, cerca de dois terços dos produtos relacionados ao uso medicinal da cannabis são destinados ao tratamento de artrite, uma condição comum para pessoas nas idades mais avançadas. Afinal, se trata de alternativa importante em relação aos medicamentos à base de opioides ou outros remédios mais fortes em um momento de vida no qual a saúde fica mais precária.

Tão importante quanto o uso medicinal de produtos à base de cannabis é a crescente procura por bem-estar e prevenção, na busca de melhor qualidade de vida. Isso nos leva também ao imenso potencial de outros produtos, da categoria over the conter (OTC), que são aqueles encontrados nas farmácias para compra sem necessidade de prescrição médica. Falarei mais sobre os OTCs em um futuro artigo.

De forma muito resumida, tudo isso é possível porque os produtos que contêm canabinoides em sua composição se conectam naturalmente com o sistema endocanabinoide presente no organismo. Em cada parte, o sistema realiza atividades diferentes, mas sempre com a função de trazer equilíbrio e estabilidade, regulando uma série de processos fisiológicos como apetite, controle muscular, metabolismo, termorregulação e qualidade do sono, entre outros. Consequentemente, essa dinâmica incide em ações reativas do corpo como dores e inflamações.

Para a comunidade do startupsaude.com esse conceito pode ser menos complexo, mas imagine explicar essa relação entre uso de produtos com canabinoides ao público 65+. Eles vivenciaram os períodos mais duros de restrições e da guerra contra as drogas, entre meados dos anos 1960 e 1970. Ou seja, há barreiras culturais, mas também problemas no entendimento e, em alguns casos, dificuldades no acesso às novas tecnologias.

Deixo esse contexto porque empreendedores e investidores que pensam em startups precisam ter em mente que as oportunidades relacionadas ao público 65+ envolve necessariamente iniciativas voltadas à educação e comunicação sobre a utilização para levar esses produtos ao dia a dia deles, com conteúdo sob medida. Mas não para por aí. Normalmente, os filhos e familiares das pessoas da terceira idade são as responsáveis por conduzi-las ao tratamento. Assim, é preciso abordagem multigeracional para educar os acompanhantes e simplificar ao máximo a jornada.

Isso envolve também assegurar que os pacientes estão sendo ouvidos, compreendidos e contado com todo o empenho para otimizar os benefícios. Sempre consideramos ainda que os medicamentos à base de cannabis não são balas de prata e precisam ser trabalhados para as finalidades adequadas, além de controle maior para formulações que envolvem o tetrahidrocanabinol (THC), que possui efeito psicoativo e demanda cuidados em relação a condições da saúde cardíaca e mental do paciente. Afinal, responsabilidade e segurança está sempre em primeiro lugar.

O fato é que a cannabis pode contribuir para que anos dourados sejam vividos na terceira idade e os horizontes estão abertos não somente para médicos, mas para toda uma cadeia de suporte ao atendimento clínico.

Ola, deixe seu comentário para nossa comunidade!