Panorama do uso medicinal da cannabis no mundo e no Brasil

Cannabis Medicinal

Os olhos de todo o planeta estão voltados à medicina devido à pandemia do novo corona vírus. Deste cenário aterrador, por conta da perda de milhares de vidas, teremos um futuro onde nada mais será como era antes e a crescente preocupação da sociedade com saúde e bem-estar terá uma escalada ainda mais intensa. Neste contexto, mais cedo ou mais tarde, todos perceberão uma revolução global que está em andamento neste exato momento, por meio do avanço do uso medicinal da cannabis.

A faísca foi acesa na opinião pública na década de 1990, a partir de casos de crianças doentes, para as quais era negada a possibilidade de uma qualidade de vida melhor, com o tratamento à base de cannabis para condições debilitantes como, por exemplo, epilepsia aguda. O impacto foi tremendo e abriu portas para a legalização da cannabis para fins médicos em diversos lugares, revelando novos e amplos horizontes. Atualmente, 55 países possuem algum tipo de regulamentação para o uso medicinal da cannabis.

Esse movimento vai desde os mercados mais avançados do primeiro mundo a países em desenvolvimento, que estão quebrando barreiras importantes. Dois bons exemplos residem no Lesoto, primeiro país africano a legalizar o cultivo de cannabis para fins medicinais, e no Líbano, primeiro país árabe a fazer o mesmo. Na Ásia, Coreia do Sul e Tailândia saíram na frente em termos de marcos regulatórios. Além disso, Japão e China estão intensificando investimentos em pesquisas e testes clínicos. A Austrália não fica atrás e seu governo investe no fomento à indústria medicinal da cannabis para conquistar posição de destaque no cenário internacional. Ou seja, a corrida já começou e as sociedades ao redor do mundo só têm a ganhar com esse caminho extremamente promissor.

As dores crônicas ou agudas constituem a causa primária para que as pessoas recorram o uso medicinal da cannabis. Essa vertente já apresenta um ganho expressivo para os Estados Unidos. Em 33 Estados, onde o uso medicinal da cannabis é regulamentado, a redução dos gastos governamentais em medicamentos para a dor é de 11%, na comparação com os territórios que ainda não legalizaram o uso.

Na Europa, por exemplo, as razões mais citadas para iniciar o uso do canabidiol incluem, além da dor, o relaxamento, alívio do stress, redução da ansiedade, melhora do bem-estar de forma geral, incremento da qualidade do sono, tratamento de condições médicas específicas e controle de efeitos negativos de outros medicamentos.

Uma amostra de pacientes que fazem uso medicinal da cannabis, pesquisada pela New Frontier Data, revela que 94% sinalizaram melhora nas suas condições, sendo que para 66% a evolução foi significativa.

Essa mudança de comportamento em relação ao uso medicinal da cannabis não acontece por acaso e vem na esteira da conscientização sobre o valor terapêutico da planta, mediante sólidas evidências científicas. Esse é o principal vetor de aceleração da aceitação e do uso. Além disso, à medida que a comunidade médica considera a cannabis como ferramenta terapêutica, a legalização expande o acesso e a demanda passa a ter crescimento contínuo. Na sequência, vem o feedback positivo dos pacientes e o círculo virtuoso está formado.

Em termos de mercado, apenas nos Estados Unidos, o mercado legal medicinal girou US$ 6 bilhões, em 2019, e mais do que dobrará até 2025, com expectativa de movimentação de US$ 13,1 bilhões. Entre nossos vizinhos mais próximos, há regulações recentes na Argentina, Chile, Colômbia, Peru e Uruguai. O Chile desponta na liderança de pesquisas na região e os colombianos apostam na produção da cannabis para conquistar uma boa fatia do mercado global. Já no Brasil, se houvesse o cenário mais favorável possível, a receita interna com venda de produtos medicinais à base de cannabis poderia chegar a R$ 4,7 bilhões em três anos, com mais de 3,4 milhões de pacientes beneficiados. No entanto, ainda estamos distantes do melhor ambiente, o que deixa a progressão em escala fora do horizonte ainda.

Nosso País tem a maior concentração de consumidores em potencial na região e o mercado doméstico possui imenso campo de oportunidades para desempenharmos protagonismo nesse setor, incluindo a produção da cannabis. E, desde já, existe espaço para desenvolvermos soluções e tecnologias que facilitem as atividades em vários segmentos como health tech, edu-tech e biotech, entre outras possibilidades. Nunca valeu tanto a pena trabalhar para que ‘a grama dos vizinhos não seja mais verde do que a nossa’.

Por *Marcelo De Vita Grecco – cofundador da The Green Hub e CEC – Centro de Excelência Canabinoide.

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