Longevidade com Saúde, Tecnologia e Empreendedorismo *por Alex Lucena

Sabe aqueles ensinamentos que você nunca esquece? Pois bem; quando eu ainda era adolescente, ouvi uma frase do meu pai que ficou registrada na minha memória para sempre: “Filho, o dia que teu avô parou de trabalhar foi o dia que ele começou a morrer”. Lição aprendida, venho compartilhar nesse artigo um plano pessoal que é o de trabalhar até o último dia, com a melhor saúde possível, contando com a ajuda da tecnologia e o espírito empreendedor de sempre.

No início de outubro, o Movimento Longevidade Brasil realizou no Rio de Janeiro a Semana da Longevidade 2018, com fóruns, palestras e oficinas, celebrando os 15 anos do Estatuto do Idoso. Fui convidado a participar de uma mesa de debates que me fez refletir bastante. Como empreendedor digital há mais de 20 anos, tive a oportunidade de reafirmar minha convicção de que tecnologia e longevidade são forças absolutamente convergentes. As tecnologias já vêm atuando na saúde fortemente, fazendo com que as pessoas vivam mais tempo, com mais qualidade, melhorando a relação com os cuidados que se tem e com os diversos atores envolvidos, como hospitais, laboratórios, clínicas e profissionais da saúde em geral.

Falei sobre o incrível avanço na Biotecnologia – a partir da descoberta de remédios, vacinas e novas formas de tratamento, muitos já afirmam que viver por mais de 150 anos será uma realidade possível em breve. A cada dia que passa, o diagnóstico por imagem obtém maior precisão com equipamentos como ultrassonografia, tomografia computadorizada, medicina nuclear, radiologia intervencionista e ressonância magnética. Além disso, a utilização da telemedicina, dos dispositivos moveis, dos sensores e da internet das coisas em nosso dia-a-dia só tende a crescer sem que percebamos a presença dessas tecnologias.

A receita para uma maior longevidade, obviamente, também passa por alimentação saudável, exercício físico regular e um bom equilíbrio entre a saúde mental e espiritual. Mas, voltando à lição do meu pai, propus adicionar a essa receita uma palavrinha mágica: “trabalho”. E foi nesse ponto que alguém me interrompeu e disse algo mais ou menos assim: “Alex, acontece que, numa empresa, o funcionário com mais de 50 é considerado velho; e velho não tem vez no mercado de trabalho brasileiro”. E não é que aquilo fez enorme sentido na minha cabeça.

Resolvi então pesquisar um pouquinho mais o assunto e descobri que, embora existam iniciativas como, por exemplo, o site MaturiJobs, uma plataforma inovadora que reúne oportunidades de trabalho, com o objetivo de conectar pessoas maduras e experientes em busca de atividades, a realidade é que encontrar ofertas para contratação de profissionais com mais de 50 anos é um enorme desafio. Segundo a RAIS (Relação Anual de Informações Sociais), a parcela de profissionais de 50 a 64 anos no mercado formal brasileiro é de apenas 16,5% do total de pessoas empregadas e, de acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), mais de 2 milhões de pessoas de 50 a 64 perderam o emprego entre 2016-17. Segundo o mesmo estudo, o Ministério do Trabalho fala na criação de uma nova divisão para cuidar de questões de discriminação, entre elas contra idosos no mercado de trabalho.

Ora, se parar de trabalhar é uma hipótese fora de questão, é preciso encontrar uma saída e essa saída chama-se Empreendedorismo. Sendo assim, segui pesquisando alguns números interessantes e descobri que, de acordo com o IBGE, o número de empreendedores brasileiros de 50 a 59 anos saltou de 3,5 milhões de 2002 para 5,5 milhões em 2014. O aumento de 57% foi o maior entre as sete faixas etárias pesquisadas nesse período. Dados mais recentes do Sebrae indicam que essa tendência continua. Em 2012, a fatia de novos empreendedores com mais de 55 anos era 7% do total. Em 2016, essa parcela subiu para 10%, maior nível da série até então.

Ainda segundo o Sebrae, 98,5% das empresas do nosso pais são considerados pequenos negócios, o que significa 54,5% dos empregos formais no total ou 27% do nosso PIB. Ou seja, é perfeitamente possível produzir, criar e inovar através do empreendedorismo em qualquer idade. E sendo assim, desejo a todos muita saúde e trabalho para sempre!

*Alex Lucena é CEO da 4H Tecnologia em Saúde, empresa ligada ao Laboratório de Engenharia de Software (LES) da PUC-Rio

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