A Transformação Digital na Saúde traz promessas de grandes benefícios na entrega de cuidado aos pacientes, como a oferta de wearable devices, que permitem o acompanhamento do estado de saúde dos pacientes à distância e em tempo real, aplicações de Inteligência Artificial e Machine Learning, para auxiliar em controle de epidemias e diagnósticos mais rápidos e assertivos e muito mais.
A medicina do futuro é digital e não há como fugir disso, pois os consumidores de serviços saúde, ou seja, os pacientes, já são digitais.
Porém, com a aceleração da digitalização e transformação digital da saúde, é fundamental falar sobre a inclusão e educação digital de médicos e estudantes de medicina.
As escolas de medicina não acompanham as mudanças tecnológicas na velocidade necessária: os ensinamentos ainda são muito analógicos e não há, durante a formação, quase nenhuma preparação para a entrada dos estudantes em um mundo digital.
Pouco se fala sobre como desenvolver um mindset digital, como operar ferramentas de telemedicina e dispositivos tecnológicos. Assim, na maioria dos casos, o que se observa é que os médicos só começam a ter contato com a realidade da medicina digital contemporânea quando iniciam suas residências e vida profissional.
Já os médicos mais experientes precisam lutar para se adequar a uma forma de prática médica totalmente diferente do modelo com o qual estão acostumados.
Neste contexto, a ampliação da inclusão e da educação digital de médicos para um desafio imbatível, mas não precisa ser assim.
Se podemos tirar algo bom da trágica crise causada pelo novo coronavírus, eu diria que o que mudou para melhor foi que, agora, as pessoas e os profissionais passaram a olhar para a tecnologia como um potente instrumento de aproximação e conexão, reconhecendo o seu valor e importância para a manutenção das relações humanas.
Assim, mesmo aqueles médicos e estabelecimentos de saúde que estavam adiando a Transformação Digital, acreditando que seria possível esperar por mais um ou dois anos, acabaram sendo formados recorrem às ferramentas tecnológicas para atender seus pacientes durante a pandemia.
O cenário é otimista: em uma pesquisa realizada pela Associação Paulista de Medicina (APM), publicada em março deste ano, 90% dos médicos entrevistados disseram acreditar que as novas tecnologias digitais podem ajudar a melhorar a saúde da população.
Talvez agora a conversa a respeito de como aproximar os médicos da tecnologia, de como falar a linguagem do digital, passe a ser uma pauta de maior destaque.
Falar sobre isso é fundamental para que mais ações sejam tomadas neste sentido. Dentre elas, devemos incluir:
- a reformulação dos currículos arcaicos das escolas de medicina;
- a educação em tecnologia para professores de medicina;
- parcerias entre escolas de medicina e startups, para levar inovação para as salas de aula;
- parcerias com associações, sindicatos, órgãos de classe e centros de capacitação profissional de médicos, para levar a Transformação Digital para os profissionais em exercício;
- a criação de centros de pesquisa mistos, que aproximem profissionais da saúde de profissionais de computação e tecnologia, cientistas de dados, inovadores e empreendedores.
Para muitos profissionais, medicina e tecnologia são coisas que não se misturam bem, ou que não devem se misturar. Ainda na pesquisa realizada pela APM, 38% dos entrevistados revelaram não utilizar nenhuma tecnologia de armazenamento de dados de pacientes e/ou compartilhamento de informação. Apenas 48,1% deles utiliza prontuários eletrônicos e 18,4% utiliza programas de gerenciamento de consultório e pacientes.
Mesmo para aqueles que tentam trazer tecnologia para as suas rotinas, parece haver dificuldades. Por exemplo, 65,8% dos médicos afirmaram que trocam mensagens com seus pacientes por aplicativos de mensagens como o Whatsapp. O problema é que, além de cerca de 63% deles não cobrarem pelas horas investidas nessas trocas de mensagem, é questionável a confiabilidade e garantia de sigilo médico oferecida por essas plataformas.
A educação digital para médicos não significa transformá-lo em um especialista em robôs, inteligência artificial, ou mesmo no próximo Bill Gates. Educar para o digital significa, em primeiro lugar, dar aos médicos as condições para utilizar a tecnologia de forma segura, ética e responsável, com o objetivo de facilitar e otimizar o exercício profissional.
O potencial das soluções em Health Tech para revolucionar a forma como experienciamos e consumimos serviços de cuidado em saúde é enorme e não pode mais ser ignorado.
No entanto, não é possível fazer inovação em saúde se não houver profissionais da área dispostos a contribuir com o desenvolvimento de soluções tecnológicas com propósito e alto valor agregado, que incentive o uso massivo da ferramenta.
Por isso, é fundamental que lutemos para que haja investimento em educação multidisciplinar, pesquisa e desenvolvimento e parcerias com grupos e organizações relevantes, para inserirmos esses profissionais no mundo da medicina digital, ampliando a inclusão e a educação digital dos médicos e demais profissionais da saúde.
Autora: Isabela Abreu
CEO & FOUNDER REDFOX SOLUÇÕES DIGITAIS
Empresa especializada em Transformação Digital na Saúde.
RedFox Soluções Digitais
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