Decisão da ONU sobre cannabis aponta futuro melhor para pacientes e empreendedores da saúde

A Comissão de Narcóticos da Organização das Nações Unidas (ONU) removeu a cannabis e a resina de cannabis da Lista 4 da Convenção sobre Drogas de 1961, reservada aos entorpecentes mais perigosos. Essa decisão chega com atraso de dois anos em relação a um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) que, em dezembro de 2017, reconheceu os benefícios terapêuticos da planta. Ou seja, esse movimento não surpreende os especialistas em saúde que acompanham essa questão de perto.

Por um lado, a decisão histórica precisa ser comemorada, antes tarde do que nunca. Porém, em outra perspectiva, ainda é de se lamentar profundamente a posição do Brasil, que votou contra a reclassificação.

Para quem pensa em saúde sob a ótica da ciência, é extremamente difícil entender porque o governo brasileiro desejava manter um status baseado em relatórios da década de 1950, considerados bastante desatualizados. Ademais, compreender essa postura fica quase impossível devido à comprovação de que o canabidiol (CBD) não possui qualquer efeito psicoativo.

No entanto, mesmo se considerarmos o tetrahidrocanabinol (THC), substância da cannabis com efeito psicoativo e maior necessidade de controle e acompanhamento no uso medicinal, ainda se trata de opção muito melhor a tratamentos realizados com opioides, medicamentos feitos a partir de uma espécie da papoula, flor usada para fazer ópio e heroína. Em 2017, o governo de Donald Trump declarou o abuso de opioides como emergência de saúde pública nos Estados Unidos. Curiosamente, em apenas seis anos, entre 2009 e 2015, o consumo destes produtos no Brasil cresceu 465%.

Em meio a essas discrepâncias, a decisão da ONU sobre a cannabis cria ambiente mais favorável à pesquisa com a planta. Provavelmente, esse reflexo deve ser sentido por aqui no médio prazo e beneficiará milhões de brasileiros no tratamento de doenças como Mal de Parkinson, esclerose, epilepsia refratária, dores crônicas e câncer. Aliás, a reclassificação poderia acelerar a tramitação e aprovação do Projeto de Lei 399/2015, que regulamenta o cultivo da cannabis para uso medicinal e industrial. A proposta está travada no parlamento injustificadamente.

Paralelamente, teremos também impacto positivo na indústria legal da cannabis voltada ao uso medicinal, sinalizando bom horizonte para empreendedores. E o efeito pode ser ainda melhor nas localidades com mercados menos amadurecidos, caso do Brasil e de muitos países da Ásia e da região do Caribe.

Para quem deseja desenvolver projetos de startup, ressalto que, só nos Estados Unidos, o uso medicinal da cannabis pode movimentar até US$ 34 bilhões em 2025. Boa hora para ideias voltadas ao B2C, B2B e, até mesmo, ao mercado internacional.

Afinal, apesar da pandemia, 2020 será o melhor ano da história para as empresas da nova economia no Brasil. Dados da empresa Distrito, que mapeia o setor, apontam 100 aquisições de startups e recorde no volume de aportes realizados nos novos empreendimentos, levando em conta apenas o período entre janeiro e setembro.

Como eu costumo dizer, não falta dinheiro para bons projetos no País. Olhando à frente, a mudança de classificação da cannabis na ONU é uma evolução que contribuirá para melhorar o acesso a tratamentos e o direito à saúde deve estar sempre em primeiro lugar. No entanto, à medida que dias melhores chegarem para os pacientes, também virão para os empreendedores da saúde. Quem quer fazer a roda começar a girar em 2021 deve transformar ideias em projetos agora. Vamos nessa?

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