O primeiro caso registrado no Brasil foi em São Paulo no dia 26 de fevereiro de 2020. Em junho, o Brasil registra mais de 1 milhão de casos confirmados, com quase 54 mil mortes, representando uma taxa de letalidade de 4,5%.
Porém um estudo publicado na Rev. Brasileira de terapia intensiva, estima que as notificações de casos confirmados, representam apenas 9,2% dos números reais, ou seja, o número de confirmados é muito maior.
A subnotificação pode estar relacionada a alguns fatores, como sistemas de informações fragmentados, a qualidade, número de testes disponíveis e dificuldades operacionais, que leva a um aumento da demora entre a realização e os resultados dos exames. Consequentemente, não ter conhecimento real da dimensão da pandemia, dificulta nas tomadas de decisões, prejudicando na determinação das medidas de controle.
Apesar das medidas serem diferentes para cada região, as recomendações mais adotadas são o distanciamento físico, o confinamento domiciliar, a prática de higiene das mãos e o uso de máscaras. Porém as informações desencontradas, os “fake news”, a fraca coordenação entre os níveis do governo e o problema de governança trazem pouca segurança sobre a ações, gerando desconfiança e confusões para a população, principalmente sobre a adoção da quarentena.
Além disto, para a adoção da quarentena, existem diversas limitações, principalmente para os grupos mais vulneráveis, que são os de baixa renda, com condições precárias de saneamento e moradia, expondo-os para maior risco de contaminação.
Outro fator evidenciado nesta pandemia, foi o subfinanciamento do sistema de saúde público, refletindo na falta de recursos e na longa espera ao acesso de saúde.
Já para os de maior renda, constatou-se uma maior preocupação com a saúde mental, onde o confinamento levou maior maiores índices de ansiedade e depressão.
Por outro lado, vemos iniciativas que ganharam força durante esta pandemia, como uso da telessaúde para o enfrentamento da COVID-19. Em 23 de março de 2020, foi autorizado de forma ainda excepcional para o período de pandemia, a operacionalização da telemedicina, nos âmbitos público e privado para atendimento pré-clinico, suporte assistencial, consulta, monitoramento e diagnóstico.
Outro fator positivo, foram reflexões sobre a importância da atenção primária, de adotar medidas de promoção e prevenção, evidenciando que um modelo fragmentado, hospitalocêntrico, com pagamentos fee-for-service é insustentável a longo prazo.
Concluindo, existe o problema da COVID-19 e existem os problemas mais antigos que o país já enfrentava, mas que se tornaram visíveis em tempos de crise. A COVID-19 expõe a desigualdade social, a falta de articulação entre o público e o privado, o subfinanciamento, a desarmonia entre as lideranças e os sistemas de informações fragilizados.
Este cenário fez com que houvesse uma necessidade urgente de uma transformação do sistema de saúde, e iniciativas como o uso de inovações tecnológicas, como a telessaúde, a importância de um modelo centrado na atenção primária, focado na promoção e prevenção, o empoderamento do paciente e a confiabilidade das informações são alguns fatores que ganharam força e estas reflexões e transformações tendem a expandir e consolidar para poder alcançar um modelo mais sustentável, de qualidade e que de fato, de acesso a todos.

Autora: Larissa Yumi Yamamoto
Enfermeira, MBA Administração Hospitalar e de Sistemas de saúde FGV e Aprimoranda PROAHSA- Hospital das Clínicas da FMUSP.
Referências
- Santos TA, Cristo HS. Reflexões contemporâneas à luz da pandemia do novo coronavírus. Cad. Saúde Pública vol. 36 nº 6 Rio de Janeiro. Junho, 2020.
- Prado MF, Peres IG, Dantas LF et al. Análise da subnotificação de COVID-19 no Brasil. Rev. bras. ter. intensiva, ahead of print. Junho, 2020.
- Bezerra ACV, Silva CEM et al. Fatores associados ao comportamento da população durante o isolamento social na pandemia de COVID-19. Ciênc. saúde coletiva vol.25 supl.1 Rio de Janeiro. Junho, 2020.
- Caetano R, Silva AB et al. Desafios e oportunidades para telessaúde em tempos da pandemia pela COVID-19: Uma reflexão sobre os espaços e iniciativas no contexto brasileiro. Cad. Saúde Pública vol.36 no.5 Rio de Janeiro. Junho, 2020.