Como profissionais de saúde, impossível não falar dos efeitos que o novo vírus trouxe para a saúde das pessoas e para os sistemas de saúde de todos os países do mundo e, também, em suas economias.
Mas toda crise é um período de reflexão e, também, de mudanças. Haverá mudança do estilo de vida e hábitos das pessoas, empresas e países. Os impactos causados pela doença irão mudar a lógica atual.
Como se comportará a sociedade brasileira após esse período? Como será o seu perfil de consumo passado a pandemia? Como será o acesso à saúde no período imediato pós coronavírus? Haverá demanda reprimida e uma corrida aos serviços de saúde? Haverá perda de poder aquisitivo e consequente diminuição do acesso aos planos de saúde? Como nos prepararemos para outras pandemias que venham acontecer?
A capacidade de se adaptar rapidamente às mudanças em curso, readequar os produtos e a forma de habitual de ofertar os serviços, buscar inovações criativas para a sustentabilidade do negócio, e implementar respostas para mitigar os riscos será o diferencial para alavancar oportunidades após a pandemia.
A história mostra que grandes saltos de crescimento, em diversos setores, incluindo a medicina, foram nos momentos de crise e, o momento atual em que estamos atravessando, isso se confirma: aceleram-se trials/testes e estudos de medicações e exames; tecnologias que facilitam o acesso mas que, por motivos corporativos, eram adiadas, como a telemedicina, são colocados em prática; o uso de redes e mídias mais confiáveis para a busca e compartilhamento de informações em saúde são difundidos; Startups criam formas rápidas para o desenvolvimento de respiradores; impressoras 3D são acionadas em diferentes partes do país e do mundo para a produção de máscaras para profissionais de saúde; o Home Office nos mostra que, sim, é possível ser produtivo com menor deslocamento; assim como a importância de termos profissionais de saúde treinados e valorizados para a manutenção de um sistema de saúde eficaz.
A globalização facilita a difusão das doenças mas, ao mesmo tempo, facilita a troca de conhecimentos e informações.
Mudar o mindset e o modelo de gestão usualmente ancorado em planejamento, comando e controle – funcional para ambientes estáveis, porém ineficaz em contextos que demandam ações rápidas e dinâmicas, como o que estamos enfrentando atualmente com a pandemia – serão alguns dos legados da pandemia. Implementar ações inovadoras e oportunas poderão significar a vida ou a morte de pessoas, empresas e das instituições de saúde.
A sensação de impotência perante a crise também pode ser uma oportunidade para uma revisão do modelo de assistência à saúde no Brasil e no mundo.
Talvez, um pequeno vírus revele a real essência do propósito do cuidado à saúde das populações e como devemos reorganizar nossas ações. Temos que usar esse momento para já estruturar o que virá em poucos meses.
Por Martha Oliveira
Diretora Executiva Designing Saúde