Como a economia digital está ditando mudanças no segmento da saúde

Por Marcelo Simões Coelho

Hoje no Brasil, tanto a saúde pública (SUS) quanto a suplementar (privada, que diz respeito aos planos de saúde e atendimento particular) enfrentam desafios que podem comprometer a prestação de serviços e gerar perda de usuários, mas ao mesmo tempo podem inspirar mudanças. A transformação digital traz grandes oportunidades para o mercado, que responde investindo em iniciativas, melhorando serviços e entregando mais transparência e valor para os clientes.

Mesmo sendo uma área mais tradicional, podemos ver na saúde grandes avanços tecnológicos, não só com a evolução e o aprimoramento dos equipamentos médicos, mas também na forma de trabalho dos profissionais de saúde, na prevenção de doenças, no gerenciamento de dados e até na forma como as pessoas consomem saúde atualmente.

A quantidade e a rapidez das informações, a capacidade de armazenamento de dados e o encurtamento de fronteiras e barreiras geográficas ajudaram a transformar a economia e a sociedade como um todo. Na área da saúde não foi diferente, e a transformação digital chegou integrando tecnologia e inovação nos processos, o que permite uma revolução na gestão da saúde, otimização de recursos, redução de custos e melhoria da experiência do cliente.

A chave dessa transformação são os dados. Mas mais importante do que colhê-los, é investir na organização dos mesmos em informações valiosas. Essas informações ajudarão em uma melhor alocação de recursos e tomada de decisões.

Dentre as tecnologias que estão sendo empregadas hoje, temos:

–       Big Data

–       Inteligência Artificial

–       Realidade Virtual

–       Blockchain

–       Impressão 3D

–       Internet das Coisas, entre outras.

A partir dessas tecnologias, surgem inovações, como a modelagem preditiva, que cruza informações com algoritmos e identifica pacientes com maior risco de desenvolver determinados problemas de saúde. Essas informações podem ser usadas por exemplo para estabelecer cuidados preventivos ou até definir planos de assistência médica.

Temos também a telessaúde, que engloba desde consultas online com médicos e psicólogos, programas personalizados de alimentação saudável, controle de peso, prática de atividades físicas, até chatbots de atendimento e triagem de risco. Hoje, mais da metade de toda navegação web é feita por dispositivos móveis, o que aumenta cada vez mais serviços sob demanda, com atendimento que se encaixe em nossas agendas, onde estivermos. Consultas hoje podem ser feitas online, sem necessidade de deslocamento do paciente e independente de barreiras geográficas. A telessaúde permite atendimento com segurança para paciente e prestador de serviço.

Ao colher informações sobre os pacientes e obter histórico de registros, as empresas de assistência médica podem ainda entender melhor o mercado e reduzir erros de medicação    . Há ainda ferramentas de auxílio à equipe de enfermagem em tarefas rotineiras, simulações para treinar médicos e planejar cirurgias. A realidade virtual também já comprovou incríveis capacidades como tratamento para dor, redução da ansiedade, tratamento de estresse pós traumático e de derrames.

Dispositivos médicos e equipamentos também representaram grandes avanços na medicina com a evolução tecnológica. Muito além de relógios que se conectam à internet, os dispositivos médicos vestíveis também são capazes de monitorar batimentos cardíacos, passos, distância percorrida, qualidade do sono, medidores de suor, entre muitas outras funcionalidades. As impressoras 3D tornaram-se populares no mercado para objetos decorativos e peças para a indústria, mas atualmente estudos avançam na direção da impressão de ossos, vasos sanguíneos, órgãos e próteses.

Com essa quantidade de informações, a segurança de dados é imprescindível. O blockchain tem grande eficácia na prevenção de violação de dados, melhorando a precisão dos serviços médicos e reduzindo custos. As indústrias de saúde e farmacêutica já estão atestando sua eficiência, investindo milhões neste mercado.

Para muita gente, alguns desses conceitos podem parecer tecnologia do futuro. Aqui no Brasil, ainda temos muitos desafios. A regulação do governo e o conservadorismo ainda são barreiras para alguns avanços. Regular tanto os preços quanto a qualidade dos serviços atrelados a eles também é ainda uma das maiores dificuldades dessa indústria. A tecnologia envolve investimentos com os quais muitas vezes nem a saúde pública nem a suplementar conseguem arcar. Na saúde suplementar ainda há o problema do controle e monitoramento de fraudes, que pode gerar grandes custos se não for eficaz.

Temos ainda a população brasileira em processo de formação digital, o que gera muitas vezes resistência à digitalização dos processos. Enquanto a compra online já virou parte do cotidiano, consumir saúde online ainda é uma barreira. Nesse cenário, a formação do cliente tem sido de extrema importância. Devemos educá-lo e ajudá-lo a encontrar informações confiáveis, construindo cada vez mais credibilidade. Não apenas ensinar a usar, mas a tirar proveito de todas as funcionalidades oferecidas pelas ferramentas digitais.

A experimentação também colabora com a redução dessa resistência. Uma experiência bem sucedida, como uma consulta online, pode ajudar a quebrar essa barreira e fortalecer a importância da transformação digital na área da saúde. Desde a implementação da Consulta On-line Coronavírus na Unimed-BH, já foram realizadas mais de 14 mil consultas e, atualmente, temos mais de 100 médicos realizando esse trabalho. Com isso, conseguimos reduzir em 64% a média diária de consultas em pronto-atendimento, reduzindo o risco de contaminações. Outro resultado positivo foi o serviço de telemonitoramento das pessoas com suspeita de coronavírus que estão em isolamento domiciliar. Desde o início do serviço, já passaram por nosso telemonitoramento cerca de 12 mil clientes. Atualmente, mais de 700 pacientes estão sendo monitorados. Em um período de pandemia, isso representa mais segurança para o usuário e para a equipe médica.

Temos tido ótimos resultados e vemos que os médicos e pacientes que se abrem para experimentar e conhecer, tem um feedback positivo. Afinal de contas, a transformação digital vem com o objetivo de dar suporte e ferramentas para ajudar nos processos e otimizar resultados. Ela permite novos modelos de prestação de saúde com maior atenção ao usuário, acompanhamento e prevenção contínuos e até redução de custos.

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