Ascensão dos psicodélicos proporciona viagem de renascença e revolução para a medicina

Depressão, ansiedade, dependência química, desordens alimentares e transtorno de estresse pós-traumático. Esta lista inclui algumas das patologias mais desafiadoras para neurocientistas, psiquiatras e psicólogos. A incidência desses males e o tratamento ganharam dimensões ainda maiores desde o início da pandemia. Em contrapartida, pesquisadores estão liderando o renascimento de um caminho terapêutico para essas condições a partir de drogas que possuem efeito psicoativo, também conhecidas na área científica como psicodélicos.

Esse movimento pode desencadear a abertura de novos horizontes relevantes para a medicina e, até mesmo para o bem-estar. Contudo, a abordagem dessa vertente neste artigo começa com uma contextualização onde as memórias do passado se encontram com as possibilidades do presente.

Os estudos com substâncias psicodélicas não é nova e tem uma história semelhante com as pesquisas em torno do uso medicinal da cannabis. Nos anos de 1950 e início dos anos 1960, havia vários estudos incluindo elementos como a dietilamida do ácido lisérgico (LSD). Porém, a guerra contra as drogas encabeçada pelo governo norte-americano fez com que tanto o LSD, quanto outros componentes psicotrópicos fossem proibidos, barrando as pesquisas. Desta forma, o potencial desta vertente ficou travado por mais de meio século. Por isso, estamos falando de um renascimento que pode levar a uma revolução.

O uso medicinal de psicodélicos envolve substâncias sintéticas e naturais. Os elementos produzidos em laboratório incluem LSD e metilenodioximetaanfetamina (MDMA), composto conhecido como principal ativo do ecstasy e que, em sua forma pura, pode ser considerado seguro para aplicações medicinais. Já entre os psicodélicos de origem natural estão a ayahuasca, psilocibina e ibogaína.

As pesquisas envolvem instituições como a Universidade John Hopkins e o Imperial College. Além disso, pesquisas com resultados efetivos no tratamento de depressão e estresse pós-traumático foram publicadas recentemente no The New England Journal of Medicine e na revista Nature, duas das publicações científicas mais conceituadas do mundo. Adicionalmente, o jornal The New York Times destacou o uso do MDMA e da psilobicina, ressaltando um novo momento da ciência nesta vertente.

Esses resultados expressivamente positivos fizeram a Food and Drug Administration (FDA), órgão do governo norte-americano que exerce papel semelhante ao da Anvisa no Brasil, autorizar a expansão de pesquisas com o MDMA para o transtorno de estresse pós-traumático.

Brasil no Top-3 – A produção científica brasileira está na crista da onda o que se refere às pesquisas psicodélicas. O Brasil está na terceira posição entre os países com maior volume de projetos nessa temática, atrás apenas de Estados Unidos e Reino Unido.

Além disso, já é possível identificar alguns polos com importantes estudos, como a Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Universidade Federal de São Paulo e Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). As pesquisas no Brasil abrangem elementos como LSD, MDMA, tetrahidrocanabinol (THC), ibogaína e psilocibina.

Contudo, grande parte das pesquisas envolvem a ayahuasca, oriunda de algumas plantas originárias da Amazônia, utilizadas em alguns rituais indígenas e religiosos. A dimetiltriptamina (DMT) é um poderoso elemento psicoativo presente na ayahuasca e os estudos nacionais têm comprovado efeitos positivos nos tratamentos de depressão crônica e dependência química.

Oportunidades – O desenvolvimento científico nessa área abre novas oportunidades para empreendimentos no País. Um deles é a Scirama, primeiro empreendimento voltado à inovação na ciência psicodélica. A empresa possui em seu Comitê Científico os neurocientistas Stevens Rehen e Sidarta Ribeiro. O objetivo da Scirama é proporcionar a pesquisadores brasileiros o aporte inicial de recursos, bem como ajudar na estruturação de projetos com foco no desenvolvimento de produtos e terapias baseados nas propriedades já conhecidas das substâncias psicodélicas.

No entanto, o terreno não é fértil somente para empreendedores. Os médicos tem um campo de conhecimento amplo e favorável, considerando que o uso medicinal de psicodélicos deve ser feito de forma com acompanhamento próximo e em ambiente controlado.

No exterior, a expectativa é de um boom clínicas e novas tecnologias nos próximos anos. Ademais, pesquisas e inovações já ligam os psicodélicos também ao bem-estar. Nesse sentido, as possibilidades são ainda maiores e, apenas para citar alguns exemplos, já existem apps que guiam jornadas terapêuticas e dão suporte a alguns tipos de aplicações, indo desde orientar um regime de microdosagens à ambientação musical perfeita para o tratamento.

Muitas gerações brincavam ao falar sobre psicodélicos citando os “cogumelos mágicos”. O fato é que não há magia, mas sim muita ciência. Para pacientes esse renascimento e revolução psicodélica traz esperança. Já para empreendedores, investidores, cientistas e médicos se abrem imensas oportunidades para quem quiser viajar nesse universo.

Por *Marcelo De Vita Grecco – CMO – The Green Hub

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